cruel professor, studying romances
- melody erlea

- 3 de mar.
- 3 min de leitura
Atualizado: 25 de mar.
pra ler ouvindo vampire weekend, a banda sob medida para o jovem universitário indie de classe média
tava voltando pra casa um dia desses atravessando a cidade e, além de uma rua todinha cheia de urubus, passei também bem em frente ao portão 1 da usp. bateu mó saudade de acordar cedo todo dia e pegar o ônibus azul butantã-usp na av. angélica ou o cidade universitária laranja na consolação e passar por esse portão, descer no terceiro ponto, entrar na fflch e sentar na amoreira, ir até a vet tomar cerveja, ter aulas boas e também aulas ruins, atravessar a praça do relógio e comer no banjedão e, principalmente, de ser jovem e inocente.
queria ter as fotos da facool pra postar, mas elas estão perdidas em algum computador que um dia nunca mais ligou porém também tenho saudade de:
às vezes não ir de ônibus e pegar meu carro roxo e dar carona pras amigas que moravam perto, comer no restaurante da história ou da fau ao invés do bandejão, sonhar com comer no restaurante da fea (me formei sem nunca ter ido lá), comer pastel de sonho de valsa na eca, ficar no gramado da letras e tirar fotos achando que eu era cult igual anna karina, complementar meu bacharelado de italiano com um curso de férias no centro de idiomas da fea, ir à quinta&breja ou sair da aula à noite na fflch e já estar rolando festa, frequentar a ocupação da reitoria e conhecer gente muito doida, reprovar 60 vezes em latim 2 e literatura brasileira (não lembro o número, mas a matéria era machado de assis) e de repente passar nas duas disciplinas com 10, descobrir que meu professor de latim era um dos meus autores preferidos da infância, emprestar cadernos e fichamentos das amigas, fazer amigas, aaaaaaaaaa
nessa época eu tinha um carro roxo que herdei do meu avô - por herdar leia-se: meu avô faleceu e minha família simplesmente não colocou o carro no inventário dele e a gente ficou usando por alguns anos. quando algum advogado ligava perguntando do carro, minha mãe se fazia de desentendida e dizia que não tinha ideia da onde tava, e o resultado dessa brincadeira era que o carro tinha um mandato de busca e apreensão.
esse carro tinha um rádio de fita k7 e eu tocava as mixtapes do meu pai, que ele tinha feito na juventude e que a gente ouvia no carro dele viajando quando eu era criança. só música boa, inclusive a suzi quatro que minha amiga mari amava. mari um dia me presenteou com uma mixtape que ela fez especialmente pra gente ouvir no meu carro roxo (que ela chamava de roxinho, embora roxão fosse mais adequado, meu avô tinha um amor enorme por carros especialmente grandes, desnecessariamente grandes, até), a mixtape da mari também só tinha sonzeira, e era bem diferente das fitas do meu pai. algumas semanas depois o carro foi guinchado e levado pela justiça e com ele se foram todas as minhas mixtapes, incluindo as do meu pai, a da mari, e também umas fitas de greatest hits dos carpenters, mamas and the papas, e também alguns discos dos beatles em k7! não acho que superei essa perda até hoje.
um dia eu tava na aula de latim e meu professor ricardo proclamou um poema de sua autoria e eu dei um BERRO porque era um poema de um livro que eu amava, e foi assim que eu descobri que tava tendo aula com um dos meus escritores favoritos. a partir desse dia eu comecei a esbarrar nesse professor em várias sessões de cinema aleatórias, e um dia levei meu livro na faculdade pra ele autografar :3
esse livro é incrível porque, além dos poemas maravilhosos, no fim tinha um apêndice com várias explicações sobre poesia, literatura e uso do idioma, inclusive um trecho em que ele discute brevemente o uso de letras minúsculas em começos de frases e versos. será que foi aqui que começou meu amor por escrever tudo em minúsculo?
não bastasse os poemas lúdicas e criativos que mexiam com meu cérebro, esse era um livro de verdade pra crianças que gostam de LER! tinha várias explicações extras, tipo essa linda introdução à variação linguística em que ele defende o uso da palavra dó no feminino - que é como quase todo mundo usa, embora essa seja oficialmente uma palavra masculina.
enfim, não tenho conclusão para essa sequência de memórias da juventude, apenas a satisfação de ter as memórias e ter também um lugar onde registrá-las.
(also: achei uma foto minha no gramado da letras tirando foto tentando ser cult fingindo que eu era anna karina kkkk)


























Oi, Melody!
Te acompanhava no Instagram e agora te acompanho apenas no seu blog. Você tava certa: é muito mais agradável ler seus textos por aqui. Também estou tentando abandonar as redes sociais, mas infelizmente preciso delas em certa medida pra mostrar meu trabalho e conseguir alguns freelances, além de ser por lá que editoras ficam sabendo da minha existência (sou quadrinista, não sei se lembra de mim. Quando eu estava no ensino médio te mandei uma carta cheia de zines antigas, que agora até me dão vergonha kkk).
Estou nessa fase da faculdade, e fiquei genuinamente tocada com o seu texto, meus olhos até marejaram. Infelizmente não sinto que as experiências gostosas, que vão me encher de nostalgia daqui…
NOSSA!! Foi incrível ler esse texto escutando essa banda! Incrível mesmo!