f u c k i n g r e l a t i o s h i p s
- melody erlea
- 19 de mar.
- 3 min de leitura
haim, como sempre, é a banda certa na hora certa.
eu amo como elas tem assumido uma postura-fiona-apple de produção: uma espera de cinco anos entre um disco e outro, mas assim, é sempre um póóóta dum disco. e eu não duvido nem um pouco do que está por vir - o primeiro single lançado pelas irmãs haim no que parece ser sua nova era já chegou chutando a porta e traduzindo em letra&música o que eu tenho sentido há, mais ou menos, uns cinco anos (pra combinar bem com o ciclo-haim-circadiano): fucking relationships.
pensa um música que em pouco mais de três minutos resume, de maneira poeticamente melancólica, dolorosamente esperançosa e completamente relacionável, os relacionamentos do século XXI (e quiçá de todos os tempos - as letras das haim tem uma qualidade atemporal&universal, tipo homero, tipo shakespeare, tipo doris lessing).
relationships propõe uma progressão quase natural às temáticas do disco anterior - que se afastava das letras mais humorísticas e leves sobre relacionamentos, términos e caminhar pela vida sendo xófen e adentrava uma fase mais adulta das haim, com reflexões mais sérias sobre ser mulher, se relacionar e equilibrar emoções, conexões complicadas e doideiras da cabeça. mas essa progressão natural é apenas uma impressão, já que de acordo com as próprias irmãs haim, a música levou 7 anos pra ser finalizada. e a vida é assim: tem coisas que demoram pra gente entender, que florescem na hora certa. e se no disco anterior as haim propunham conversas sobre conflitos internos e sentimentos instáveis, com um toque de raiva e um toque de nostalgia, agora elas unem o humor dos dois primeiros discos ao cinismo do terceiro, trazendo um toque de tédio de quem já viveu certas situações over and over and over again.
afinal, todo relacionamento é diferente mas é, também, meio igual a todos os outros. quantas vezes eu já me peguei dizendo ou pensando "só quem tá dentro do relacionamento sabe o que é", quando na verdade todo mundo sabe, estando dentro ou fora, porque as experiências se repetem - com uma certa repaginação e possíveis reinterpretações e remixes, mas a base é quase sempre a mesma.
e a gente sabe, a gente lembra, a gente chora-enlouquece-supera só pra algum tempo depois - às vezes pouco às vezes muito - se jogar de novo. porque dessa vez é diferente. e, muitas vezes, realmente é. por um tempo, pelo menos.
recentemente vi uma animação (no tiktok? era algum filme? meu cérebro apodrecido pelas telas jamais lembrará) que comparava se apaixonar a pular num buraco escuro sem fundo. uma hora você chega lá embaixo e se estripula todo, mas a gente sempre volta pra pular mais uma vez. e mais uma. e mais uma.
e me parece que a música nova da haim tá questionando exatamente esse ciclo impossível de explicar e de evitar que é se apaixonar e se relacionar.
fucking relationships
don’t they end up all the same when there’s no one left to blame?
i think i’m in love
but i can’t stand fucking relationships
agora a gente não tá mais se questionando sobre nossa própria sanidade, mas sobre a insanidade da própria ideia de se relacionar. aquela sensação profunda de saber exatamente o desenrolar dos fatos, mas também saber que os fatos só podem se desenrolar se a gente pular na história e cumprir nosso papel. aquele deja vu eterno que a gente tá sempre preparada pra viver de novo (e também sempre preparada pra escapar assim que possível). é sobre gostar, se apaixonar, amar, mas saber que sempre há um vão gigante e invisível na comunicação entre dois seres humanos, que pode ser preenchido por paixão ou amor durante algum tempo, mas que sempre reaparece, enorme, negro, profundo.
a música das haim sintetiza de um jeito tão gostoso, tão good vibes, todo tipo de relação que podemos ter com relacionamentos: começar um, terminar um, estar no meio de um, estar fora de um. aquela cócegazinha que dá vezenquando de vontade de se apaixonar, ou se desapaixonar, e saber que as reviravoltas emocionais vão sempre se repetir - e se você acha que não... oh just you wait, you might be new to this.
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