Grace - Jeff Buckley: a vida eterna de um anjo caído do rock

[publicado originalmente em @filmesparaouvir]

📻 "Quando Jeff Buckley misteriosamente faleceu aos 30 anos, em 1997, eu tinha 9 anos e colecionava fitas K7 do “Xou da Xuxa”. Ainda assim, eu insisto que um show dele seria meu habitat natural.

💿 Melancolia, esperança, amor, tesão… um leque de sentimentos humanos intensos parece estar comprimido nos 57 minutos de seu primeiro e único disco lançado ainda em vida, “Grace”, de 1994.

🎤 “Grace” é tão misterioso quanto seu autor: o álbum vai do intimismo sussurrado à lamúria incontida num piscar de olhos, numa virada de bateria, numa nota que se estende, nas letras que poderiam refletir o grito de uma alma amaldiçoada mas se tornam, de maneira inimaginável, a voz de um anjo perdido.

⏩️ As circunstâncias do lançamento do disco e sua subsequente e questionável popularidade contribuem para o mito de um artista tirado de nós cedo demais. “Grace” surgiu num contexto musical inóspito para um roqueiro sensível como Jeff: ele era doce e sentimental demais para a cena Grunge, barulhento e sombrio demais para os consumidores de música romântica, nepobaby demais para quem já acompanhava a voz sedutora e as experimentações folk-psicodélicas de seu pai, o músico Tim Buckley -  do qual Jeff tentou tanto desatrelar sua imagem, mas cujo impacto musical e prematura morte ele acabou emulando, contra todas as suas vontades.

🎛 É curioso que, 30 anos após seu lançamento, “Grace” siga espantando e envolvendo gerações - um disco impossível de enquadrar em apenas um gênero, cuja música mais popular, “Hallelujah”, é um assombroso e inesquecível cover, composto por uma figura pop completamente inadequada para a celebridade.

🎧 A força de “Grace” segue inigualável em seu romantismo esperançoso e sombrio, e Jeff Buckley não perde para ninguém o trono da tal sociedade dos poetas torturados - ele é o presidente, tesoureiro e porteiro desse clube, nós seus súditos e Grace seu grandioso hino."